quinta-feira, março 17, 2005

Ontem, num dos tantos momentos entediados desse meu flagelo, assisti um programa que (finalmente) tinha uma coisa que me instigou. Perguntavam qual o melhor final de livro (já solicitando que não digam Ulisses), e responderam Educação Sentimental, do Fleubert.
Num argumento, o final consistia em duas pessoas recordando-se carinhosamente do que não ocorreu entre elas.
Será isso? Será que o apenas idealizado funciona? O acordar feliz por algo que sonhou, mas nunca aconteceu?
Não sei... tem tanta gente vivendo atrás de um computador (e não me excluo disso, ainda mais no meu estado atual), abstendo qualquer existencia real e partindo principalmente para a virtual; mantendo uma vida sem aprendizados reais, mas apenas do que acreditam estar aprendendo daquela forma, e sem nenhum aprendizado que possam levar para a vida.
Daí eu ja posso me excluir, mas é extremamente triste, para mim, ver mundos se fechando, e criatividade se esvaindo de cérebros férteis.
Acredito que há tempos existe essa fuga, esse distanciamento social. Quando eu era nova, o 138 (tele amigo) era o método de conhecer pessoas fora do seu círculo, mas muita gente se limitava a não ter amigos reais e tinha amigos telefônicos.
Não sei se tem a ver, mas ultimamente algumas coisas me preocupam nessas pessoas de cotidiano e vida social limitada... a verdade pertence a eles, a coerencia e a lógica, simultaneamente, deixa de existir, mas a cultura deixa de ser cultivada! O sentimento acabou sendo deixado de lado. Pessoas não sabem se expressar, não sabem demonstrar o que pensam e sentem, e o pior: não sabem mais se respeitar.
Posso estar sendo cliché, mas é verdade. Nessa minha estranha entrada na realidade paralela de Branca de Neve, vi um universo que não tinha adentrado (e que, psicologicamente, é fabuloso), e que é estranhamente deturpado. É como o Universo Paralelo do Super Homem, onde todos são o inverso do que deviam ser.
E esse é o ponto crucial: a distância.
Sempre levei pelo ponto "fantasia" pensar no que poderia ser mas nunca foi. Diversas vezes isso me satisfez, mas creio que isso nunca poderia ser mais satisfatório que se essa fantasia fosse uma realidade. Será que o medo de que essa fantasia seja APENAS uma fantasia, daquelas que nunca se consolidariam, é tão grande, que é preferível não tentar transformá-la em realidade a correr o risco de notar que nem sempre as coisas são como imaginamos?
Como disse, não sei. Nunca li Fleubert, mas concordo com ele. Me recordo com carinho das coisas que não vivi, mas não as quero mais. Quero muito lixo, talvez esteja na hora de aprender tatilmente. Contos de fada, só um, a Branca de Neve, e apenas nessa realidade paralela; e como piada...